Rádio Colibri #25: Racismo estrutural, vivências de racismo, e saúde mental

Nesse último episódio da série “Saúde mental e racismo”, conversamos com Juliana Camará para entender melhor como o racismo estrutural determina vivências cotidianas de racismo, que por sua vez representam uma carga extra de estresse, aumentando o risco de transtornos mentais em pessoas não-brancas.

Orelo: https://app.orelo.cc/85DH

Spotify: https://open.spotify.com/episode/7nLd262yXsAdpbwCDUD9Tq?si=r4XdBWeXQTaAvs0dBz4Lzg

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YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=6DVSenSKiHo

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Ficha técnica

Roteiro: Caio Maximino e Lara Farias

Locução: Tainá Pureza e Lara Farias

Esse podcast é distribuído sob uma Licença Feminista de Produção por Pares: https://coletivoponte.noblogs.org/post/2020/11/22/a-licenca-feminista-de-producao-por-pares-f2f/

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Série “Saúde mental e racismo”


Transcrição do roteiro

Nos últimos três episódios da Rádio Colibri, falamos sobre vários aspectos da vivência subjetiva do racismo e seus impactos na saúde mental. Falamos sobre epistemicídio e injustiça epistêmica, sobre diagnóstico excessivo de psicoses, e sobre a vivência cotidiana do racismo na forma de infantilização e desumanização de pessoas não-brancas. Nesse sentido, podemos perceber que as minorias tendem a ser alvos mais frequentes de fatores estressores dos mais variados tipos (biológicos, psicológicos e sociais), o que impacta negativamente através da produção de um pior perfil de saúde, quando comparados aos grupos majoritários. A discriminação, principalmente a racial, pode atuar como um fator restritivo no acesso a importantes recursos como educação, saúde, ocupação e habitação, isto por meio da segregação institucionalizada, além de impactar diretamente sobre a autocategorização por pertencer a um grupo desprivilegiado socialmente. Dessa forma, a saúde das minorias raciais é cercada por diversas influências do âmbito social, como as dinâmicas de concentração de poder, privilégios e recursos que submetem os indivíduos inseridos nesse recorte social a uma realidade com maior frequência de exposição a experiências estressoras, o que pode limitar a possibilidade de transformação social, gerando uma menor capacidade de manejo do estresse. O último episódio da série “Saúde mental e racismo” já começou! Direto da Comuna Imaginária do Akanga, essa é a Rádio Colibri!

Quando olhamos para a frequência dos transtornos mentais na população, algumas disparidades importantes surgem. Em um estudo de João Luiz Bastos e colaboradores, publicado em 2014, raça e classe social emergiram como fatores independentes na determinação de transtornos mentais comuns em estudantes universitários. No nosso primeiro episódio, mencionamos a pesquisa de Jenny Rose Smolen e Edna Maria de Araújo, que apontou que pessoas não brancas tem de 18 a 85% mais chance de ter um diagnóstico de transtorno mental. Como dar conta dessa disparidade?

[Apresentação da Juliana Camará]

Essa voz que você está ouvindo é da Juliana. Conversamos com ela no nosso episódio sobre saúde mental das pessoas LGBTQIA+, e agora novamente para fechar essa série. Ela falou pra gente sobre alguns dos motivos que sustentam essa disparidade de saúde mental.

[Fala da Juliana]

O racismo fornece o contexto necessário para a criação e manutenção de estereótipos, preconceitos e discriminação e está ligado a estressores persistentes que afetam cronicamente a capacidade de adaptação, ajuste social e sensação de bem-estar dos indivíduos. Nesse sentido, em uma pesquisa realizada em 2003, Nancy Krieger e colaboradores tentaram delinear um modelo compreensivo de como o racismo afeta a saúde, destacando seu impacto em seis dimensões: 1) Acentua a escassez de recursos econômicos e sociais; 2) Causa maior exposição a fatores nocivos e tóxicos, como por exemplo, empregos de menor qualificação e maior risco; 3) É facilitador de conjecturas sociais que provocam danos à saúde; 4) Provê inadequados cuidados e acesso à saúde; 5) Potencializa a ocorrência de experiências agressoras motivadas pela discriminação ou violência; 6) Induzem com maior frequência a autopercepção de saúde de indivíduos expostos ao racismo como deteriorada. Tais padrões de discriminação podem ser situados tanto em aspectos materiais (discriminação institucional ou interpessoal flagrante), como subjetivos, através da internalização do racismo.

Em seu texto sobre os determinantes sociais da saúde, James Nazroo e David Williams afirmam que o impacto do racismo sobre a saúde repousa em três eixos: a desvantagem econômica que é comum aos grupos discriminados; o senso depreciativo de se perceber como membro de um grupo desprezado; e, por fim, na ameaça constante de ser vítima do racismo. Com efeito, pode-se explorar a dinâmica subjetiva do racismo sob o prisma de dois fatores precípuos: a identidade racial e a ameaça permanente ao bem-estar. Dessa forma, é importante ressaltar que não há um padrão objetivo para os impactos do racismo sob cada indivíduo, ele é essencialmente uma experiência subjetiva. Porém, o que pode-se generalizar é o seu caráter limitador em relação ao acesso a qualidade de vida, e o quanto ocasiona a cronicidade da vivência de fatores estressores ao longo de toda a vida do indivíduo.

Essas ameaças promovidas contra pessoas não-brancas fazem com que, no geral, a pessoa e seu grupo social tenham alta probabilidade de terem sido submetidas, no passado ou no presente, a múltiplas formas de subordinação, exclusão, e opressão, todas relacionadas direta ou indiretamente aos aspectos desvalorizados da identidade racial. A Juliana contou um pouco pra gente sobre como observou esse processo em sua prática profissional

[Fala da Juliana]

Notem, como a Juliana mostrou, que as ameaças promovidas contra pessoas não-brancas afetam diversas necessidades básicas e aspectos centrais de suas identidades e auto-conceito, incluindo o risco de exclusão social e da marginalização, alterização, ameaças físicas, e sensações de invalidação, impotência, privação material, e perda da integridade corporal, assim como a desvalorização dos papéis sociais, laços comunitários, e perdas de fontes de conhecimento e narrativas de compreensão do mundo. Essas ameaças comumente são associadas com sentidos de exclusão, humilhação, aprisionamento, inferioridade, inutilidade, falta de valor, impotência, e injustiça. Essas relações, significados, e ameaças são fruto de um processo que certamente é sistêmico e estrutural, mas vivenciado individualmente na vida cotidiana. Ignorar esses fatores da vivência das pessoas não-brancas e atribuir seu sofrimento a um sintoma de transtorno mental é supersimplificar o processo e mais uma vez cometer injustiça epistêmica contra eles. Uma saúde mental relacional, crítica, antimanicomial é, sobretudo, antirracista!

Se você chegou até aqui, deixamos nosso “muito obrigado” por ouvir e nos acompanhar. Estamos retornando em um novo formato, com episódios mais curtos e semanais, então fique atente aos próximos episódios! Se você quiser saber mais um pouco sobre as referências do episódio, links para redes sociais, e muito mais, entre em https://radiocolibricast.wordpress.com. Se você gostou do que ouviu aqui e quer mais episódios, assine o podcast no Deezer, Spotify, ou na sua plataforma favorita, usando o RSS. É só ir no site radiocolibricast.wordpress.com para encontrar essas informações. Você também pode nos ajudar compartilhando esse episódio com alguém que você goste, e deixando suas cinco estrelas para o podcast no Spotify ou no Apple Podcasts. A Rádio Colibri é um projeto de extensão da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. A equipe é composta por Talita Souza e Luane Alencar, alunas de Psicologia na turma da Unifesspa em Jacundá, por Jayara Oliveira, Lara Farias, Lua de Oliveira, e Tainá Pureza, alunas de Psicologia da Unifesspa em Marabá, e por Caio Maximino, professor do curso. Saudações e até a próxima!

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