Rádio Colibri #22: A dimensão subjetiva do racismo

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Saudações antimanicomiais!

Nesse primeiro episódio da série “Racismo e saúde mental”, lançamos um panorama geral sobre alguns conceitos de Frantz Fanon que podem nos ajudar a entender melhor os impactos do racismo sobre a saúde mental. Para isso, contamos com a ajuda de Caíque Góis e Lauro Barbosa.

Spotify: https://open.spotify.com/episode/5c11WP4NT9Ay2glenktXvG?si=vePKY8OpRiC3v715j4mqlA

Orelo: https://app.orelo.audio/3izG

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YouTube: https://youtu.be/D6sEduEDKNI?si=TtVUkMD9M5VdWAjk

Ficha técnica

Roteiro: Lara Farias e Caio Maximino

Locução: Lua Suellen Wanderley de Oliveira e Jayara Aygon

Música incidental: Racionais MC’s, “Capítulo 4, Versículo 3”: https://www.youtube.com/watch?v=YLa77FGfkY8. As demais músicas do episódio são da Blue Dot.

Distribuído sob uma Licença Feminista de Produção por Pares: https://coletivoponte.noblogs.org/post/2020/11/22/a-licenca-feminista-de-producao-por-pares-f2f/

“This licence do not allow artificial intelligence algorithms to be trained nor improved with any creative material contained in this web, text or resource.”


Transcrição do roteiro

A população brasileira é majoritariamente não-branca. No censo de 2022, 45,3% das pessoas se declararam pardas, 10,2% das pessoas se declararam pretas, 0,8% das pessoas se declararam indígenas, 0,4% das pessoas se declararam amarelas.  Você já parou para pensar como as vivências de pessoas de diferentes raças e etnias impactam na sua saúde mental? Podemos enumerar aqui algumas formas e dados importantes. Em uma revisão sistemática publicada por Jenny Rose Smolen e Edna Maria de Araújo em 2017, as autoras relatam que a prevalência de diagnósticos de transtornos mentais no Brasil é maior em pessoas não-brancas do que em pessoas brancas; as pessoas não-brancas tinham de 18 a 85% de chance a mais de ter algum diagnóstico de transtorno mental do que pessoas brancas. Assim, uma forma de relacionar raça e saúde mental é olhar para essas estatísticas de prevalência, e dizer que é mais provável desenvolver alguma forma de sofrimento psíquico clinicamente importante se você for uma pessoa não-branca. Não é que as pessoas brancas têm menos probabilidade de serem diagnosticadas porque há algo biologicamente constitutivo que faz com que sejam mais resilientes, ou algo assim, mas é que as experiências de racismo e desigualdade racial têm uma importância enorme na promoção do sofrimento psíquico.

Esse é o primeiro episódio de uma série da Rádio Colibri sobre racismo e saúde mental. Aqui, vamos tentar entender um pouquinho como as diferentes formas de vivenciar o racismo impactam na saúde mental de pessoas não-brancas, e como a obra do psiquiatra martinicano Frantz Fanon nos ajuda a construir uma saúde mental antirracista. Direto da Comuna Imaginária do Akanga.

[Vinheta]

Desigualdades nas questões relacionadas à saúde existem em todo o mundo, porém, peculiaridades da estruturação social tendem a revelar as diferentes facetas dessa desigualdade. Dessa forma, contrariando a desejável igualdade em relação aos fatores de proteção ou risco à saúde, uma constante na dinâmica saúde-doença das populações é a evidente disparidade das condições de saúde entre os diversos estratos sociais, ou seja, segundo diversas pesquisas na área da psicologia social aplicada à saúde, membros de grupos minoritários possuem maior probabilidade de nascerem em ambientes socialmente desfavorecidos, apresentarem maiores dificuldades no seu desenvolvimento físico e psíquico e vivenciarem intensamente a cronicidade de estressores sociais.

Nesse sentido, percebe-se que as minorias tendem a ser alvos mais frequentes de fatores estressores dos mais variados tipos (biológicos, psicológicos e sociais), o que impacta negativamente através da produção de um pior perfil de saúde, quando comparados aos grupos majoritários. Nesse episódio, vamos nos focar em uma questão importante, que é a forma como o racismo cria e mantém estereótipos, preconceitos e discriminação e está ligado a estressores persistentes que afetam cronicamente a capacidade de adaptação, ajuste social e sensação de bem-estar dos indivíduos. É importante destacar que raça é um conceito social, não um conceito biológico. É algo que é usado para dividir e classificar pessoas em grupos  baseados em características superficiais, como cor de pele. O processo social pelo qual se constróem categorias específicas de identidade com base em ideologias e práticas raciais é chamado de racialização. Esses processos são fundamentais porque são fortemente associados com sistemas de discriminação, marginalização, e outras formas de exclusão social. Conversamos com o pesquisador Lauro Barbosa sobre esse processo, e como o psiquiatra Frantz Fanon entendia a relação entre racialização e sofrimento psíquico.

[Apresentação do Lauro]

O Lauro explicou pra gente como Fanon escreveu extensamente sobre uma espécie de “complexo de inferioridade” que é delegado às pessoas negras, relacionados aos processos de inferiorização, segregação, e discriminação. O Lauro chama isso de um “comprometimento narcísico” relacionado à colonização e ao colonialismo:

[“primeiramente, os brancos se consideram superiores aos negros…”]
Esses processos de infantilização e desumanização são muito observados nos contextos médicos até hoje. No livro “Pele Negra, Máscaras Brancas”, Fanon mostra como os médicos, ao abordarem pacientes negros ou árabes, os tratam como crianças, e deslegitimam o seu discurso sobre seu sofrimento. É uma espécie de “epistemicídio”, em que o conhecimento do sujeito sobre si mesmo é ignorado, e passa-se a entendê-lo a partir das categorias que vêm da Europa. Isso produz efeitos importantes para a saúde mental:

[“Como esses processos podem impactar na saúde mental da população negra?…”]

No próximo episódio, vamos falar um pouco sobre como o racismo construiu uma lógica racial do manicômio, e sobre como um processo de epistemicídio apaga essa história, e como até mesmo dentro da luta antimanicomial esse debate ainda está atrasado.

Se você chegou até aqui, deixamos nosso “muito obrigado” por ouvir e nos acompanhar. Estamos retornando em um novo formato, com episódios mais curtos e semanais, então fique atente aos próximos episódios! Se você quiser saber mais um pouco sobre as referências do episódio, links para redes sociais, e muito mais, entre em radiocolibricast.wordpress.com. Se você gostou do que ouviu aqui e quer mais episódios, assine o podcast no Deezer, Spotify, ou na sua plataforma favorita, usando o RSS. É só ir no site radiocolibricast.wordpress.com para encontrar essas informações. Você também pode nos ajudar compartilhando esse episódio com alguém que você goste, e deixando suas cinco estrelas para o podcast no Spotify ou no Apple Podcasts. A Rádio Colibri é um projeto de extensão da Faculdade de Psicologia da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará. A equipe é composta por Talita Souza e Luane Alencar, alunas de Psicologia na turma da Unifesspa em Jacundá, por Jayara Oliveira, Lara Farias, Lua de Oliveira, e Tainá Pureza, alunas de Psicologia da Unifesspa em Marabá, e por Caio Maximino, professor do curso. Saudações e até a próxima!

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